O relatório do IPCC divulgado em agosto de 2021 mostra um cenário dramático para o mundo com consequências já irreversíveis. No cenário internacional, o Brasil tem relevância tanto para os impactos que já temos sentido (crise hídrica e queimadas) e também para adotar iniciativas que poderiam atenuar as mudanças climáticas.
Hoje, cerca de 22% do território nacional é ocupado por pastagem - sendo metade disso com algum grau de degradação - e 8% com agricultura, conforme o projeto MapBiomas. Ou seja, parte das terras pode ser priorizada para recuperação, reduzindo ainda mais a demanda por novas ocupações.
Olhando para regiões com impacto direto no Rio Paraná, nós conversamos com Diogo Laércio, doutor pela Unesp, que apresentou estudo com áreas potenciais para a criação de corredores ecológicos na raia divisória São Paulo-Paraná-Mato Grosso do Sul.
Fale um pouco sobre a sua pesquisa e seu objeto de investigação.
Minha pesquisa é fruto de uma investigação da vegetação remanescente sobre áreas potenciais para criação de corredores ecológicos, tendo como foco a área da Raia Divisória SP-PR-MS, esse “pedaço” do território onde os três estados se ligam e que foi impactado muito nas últimas décadas, seja pela construção de hidrelétricas ou pelo agronegócio. Procuro alinhar a geografia juntamente com a ecologia e a legislação ambiental para chegar em um propósito de desenvolvimento sustentável para esta região.
Quais foram os obstáculos e desafios encontrados no processo?
Muitas pessoas ainda enxergam a política de áreas protegidas como um obstáculo ao progresso. Eu vejo que há caminhos viáveis para conciliar as duas coisas, tendo um equilíbrio tanto do ponto de vista econômico como ambiental. Já existem iniciativas como esta, tanto na Raia como em outras partes do Brasil e do mundo, que comprovam que deu certo alinhar as perspectivas ambientais ao desenvolvimento socioeconômico.
Há no seu trabalho um detalhamento sobre os processos históricos na área, você acredita que estes eventos recebem a devida importância?
Sim, há um detalhamento dos processos históricos, especialmente a partir da década de 1980 com o mapeamento de uso e cobertura da terra por imagens de satélite do MapBiomas, que utilizei no meu trabalho. Podemos identificar três cenários neste processo: o primeiro com a transformação dos rios Paraná e Paranapanema para a construção de usinas hidrelétricas, especialmente a UHE Engenheiro Sérgio Motta que inundou um importante geossistema de várzea com características próximas ao pantanal. Na década de 1990, além dos empreendimentos hidrelétricos vemos o avanço da pecuária e das áreas de pastagem. Já na década de 2000 até os dias atuais, temos um crescimento de culturas como a cana-de-açúcar que se consolidou na região com diversas usinas devido às condições do solo. Todos estes processos impactaram diretamente a fauna e flora local como pode ser observado ao longo do meu trabalho.
Sob uma ótica ambiental, quais políticas públicas poderiam ser desenvolvidas?
Nossa região, devido às condições do solo, é mais suscetível à erosão. Desta forma, a vegetação cumpre um papel natural de proteger esse solo e evitar processos como o assoreamento. O que podemos ver ao longo do meu trabalho é que com a “simples” aplicação integral das políticas previstas no Código Florestal, com a manutenção das Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais, podemos evoluir em um cenário significativo de preservação. Neste contexto, pesquisas como essas aliadas aos trabalhos de conscientização e educação ambiental bem como iniciativas por ONGs podem ajudar a “desmascarar” o mito de que cuidar do meio ambiente é um “atraso”.
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